No escuro das pálpebras já se sente. Apontando para cima, esperando que as cortinas abram, que a luz entre e active os cheiros. Cheiros há muito esperados. Cheiro quente e seco, cheiro a sal e a sombra. As pálpebras iluminam-se, avermelham-se. Em silêncio é o momento de inspirar profundamente. Deixar que os cheiros entrem e preencham a memória juntando os micro fragmentos dispersos, largados longe quando os dias encolhem e escurecem. Pedacinhos sem nome, sem data, memórias difusas, felizes, incompletas. Memórias que nos transportam constantemente à mesma paisagem. Novas personagens, novas narrativas, mas sempre a mesma paisagem. Preservada nas diferentes geografias do sonho, reergue-se sabendo que é parte de um ciclo infinito que se constrói e destrói para que novamente se volte a erguer.
As pálpebras iluminam-se, avermelham-se, é o momento de abrir, inspirar novamente, muitas vezes, encher o peito dos cheiros, iluminar o rosto, aquecer a pele e deixar permanentes as marcas do estio.
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