Salto da plataforma mesmo a tempo. O comboio sai sempre atrasado, só assim é que o consigo apanhar, já que também eu vivo sempre atrasado. Talvez o comboio se acerte pelo meu tempo, ou talvez todos os dias faça questão de esperar por mim.
Se fosse a pé, de onde moro até onde quero ir, demoraria muito pouco, uma longa recta, uma pequena curva no fim e chegava. Mas o comboio contorna as montanhas. Passa para lá dessa imensa muralha. Assim que arranca e as atravessa desliza durante exactamente vinte e sete minutos até as voltar a atravessar e parar numa estação que fica muito mais distante do sítio para onde quero ir. Já não é só uma uma longa recta e uma pequena curva no fim mas um conjunto de escadarias e longas vielas inclinadas num arco que não me deixam ver o fim.
Durante vinte e sete minutos encosto a cara à janela e revejo a sequência das mesmas imagens que todos os dias são diferentes. Procuro as diferenças enquanto saboreio a constante. No ritmo compassado do comboio assisto ao desenrolar da ação. Personagens e cenários num frenético entra-e-sai de cena. Vejo o que reconheço e o que quero conhecer. Horizonto-me nessa vontade, fecho os olhos e sinto a luz quente que vem da tela de vidro riscada e suja e aproveito cada um desses vinte e sete minutos.
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